QUAL CIDADE VOCÊ MAIS GOSTARIA DE CONHECER?




Se a pergunta fosse feita assim, de sopetão, eu diria - São Petersburgo. Agora se a segunda fosse - Por que? aí teria que dar uma resposta mais elaborada.

Não sei de onde começou meu fascínio por Petersburgo, acho que inicialmente veio dos filmes da II Guerra. Tempos depois, vi Nelson Freire em seu documentário tocar minha música predileta, o concerto No 2 de Rachmaninoff, com a orquestra de Petersburgo - apaixonei de vez. Mais tarde, ainda fiquei sabendo que Dostoiévski escreveu seus principais livros naqueles cafés e recebi uma fotos da minha tia que definitivamente selaram minha admiração.

São Petersburgo já teve outros dois nomes, Petrogrado, antes da revolução comunista e Leningrado após a revolução (esses comunistas são ególatras mesmo, chegam ao cúmulo de trocar o nome da cidade para poderem aparecer mais), é a quarta maior cidade da Europa (atrás de Moscou, Londres e Paris) e também a cidade mais populosa ao norte do globo, 4,5 milhões de habitantes. São Pertersburgo foi a capital da Russia por mais de 200 anos e o centro de cultura daquele país, que nessa área perde para poucos no mundo.



Sim, esse texto vai ser cheio de referências, tipo os do Flávio Morgenstern ou os livros da Pola Oloixarac  e se você não quiser saber dos links, basta não clicar neles, mas garanto que sairá perdendo.

Só que para ampliar meu fascínio, esta semana fui assitir uma sinfonia de Shostakovich chamada Leningrado. Escrita em 1941 na própria cidade, durante a invasão alemã na II Guerra. Pois bem, vamos a mais uma referência, Baudelaire ao assistir a estréia de Tannhauser de Richard Wagner em Paris ficou tão fascinado que escreveu um livro apenas comentando suas impressões daquela peça.

"A partir [...] do primeiro concerto, fui possuído pelo desejo de penetrar mais a fundo na compreensão dessas obras singulares. [...]. Minha volúpia tinha sido tão forte e tão horrível que eu não podia me abster de querer retornar a ela incessantemente. No que eu havia experimentado, entrava, sem dúvida, muito do que Weber e Beethoven já me haviam feito conhecer, mas também algo de novo que eu me achava incapaz de definir, e essa incapacidade causava-me uma cólera e uma curiosidade associadas a uma rara delícia. Resolvi me informar do porquê e transformar minha volúpia em conhecimento [...]."

Me identifiquei com Baudelaire, pois a primeira vez que eu ouvi a 7a Sinfonia, não conseguia entender porque era tão tocante. Comentei com o Duda Carvalho, que como bom ouvinte sempre estuda as músicas antes de ir ao concerto, e ele me retratou que também estava deslumbrado. Fui atrás de informações e fiquei sabendo que Leningrado foi muito criticada em sua época porque arrebatava as platéias por onde passava e como a tendência do período eram aquelas músicas chatas experimentais ou atonais, Shostakovich foi considerado um charlatão. Entretanto hoje, alguns estudiosos como Leandro Oliveira o consideram o compositor mais influente do século XX, um período que têm nada menos que Mahler, Straus, Sibelius, Stravinsky, Gershwin e outros.

Engraçado eu gostar tanto dessa música e depois saber que ela tinha tanto a ver com meus gostos e ideais. Feita na cidade que sonho em conhecer, por um russo (eu amo os compositores russos), por Shostakovich ser considerado uma voz da dissidência ao comunismo e por ele ter sabiamente declarado a respeito da música que foi chamada de grito de libertação "a peça não deve ser entendida contra as forças opressoras alemãs, mas contra todas as forças opressoras do mundo." 







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